Seu dia nasceu numa
vida que seria feita de luz, Mei-Lin, a menina. Uma vez criança, mãe
dos adultos, feliz e serena. Alegria constante nos olhos, uma única
vez a viram se irritar, quando o menino derrubou o passarinho:
- Nunca mais voa.
Não se sabia
se falava ao moleque ou a avesinha morta em suas pequeninas mãos.
Certa feita, em conversa de adulto, seu pai falou:
- A expressão reflete
o estado de espírito.
Quietinha em um canto da cozinha Mei-Lin
respondeu baixinho:
- Homem bobo.
A mãe ralhou,
tempo perdido, Mei-Lin e seu jeitinho de deixa pra lá. Outra vez semeavam
arroz, céu limpo e brisa fresca, sua mãe parou para descansar
um pouco, enxugava a fronte quando viu. Mei-Lin estava com os braçinhos
abertos, ao seu redor uma quase nuvem de borboletas coloridas; vez
por outra ela batia palmas e as borboletas aumentavam de número,
pareciam surgir, como em mágica, de seus dedos. Mais tarde, quando
lhe perguntassem, diria apenas:
- Brincadeira.
Seu avô materno,
velhinho viúvo, sentava-se todo fim de tarde numa grande pedra perto
da casa. Um dia Mei-Lin sentou-se ao seu lado, esticou o pescoçinho
na direção do avô e lhe cochichou ao ouvido. Dois dias
depois morreu ele e antes, pediu que trouxessem Mei-Lin, abraçou-a
e se foi segurando sua mãozinha. Um dia acordou sonolenta e
não brincou, sentou-se na grande pedra e ficou a desenhar, como o dedo
no ar, um arco-íris no céu. No dia seguinte morreu, e durante
todo aquele dia, todos puderam ver, um arco-íris colorido cruzou o
céu, e sobre a grande pedra borboletas brincavam, numa quase nuvem
colorida na alegria.
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