Borboletas
         George M.P.Silva          
               Recife - PE                  
Seu dia nasceu numa vida que seria feita de luz, Mei-Lin, a menina. Uma vez criança, mãe dos adultos, feliz e serena. Alegria constante nos olhos, uma única vez a viram se irritar, quando o menino derrubou o passarinho: 
- Nunca mais voa. 
Não se sabia se falava ao moleque ou a avesinha morta em suas pequeninas mãos. Certa feita, em conversa de adulto, seu pai falou:
-  A expressão reflete o estado de espírito. 
Quietinha em um canto da cozinha Mei-Lin respondeu baixinho:
- Homem bobo. 
A mãe ralhou, tempo perdido, Mei-Lin e seu jeitinho de deixa pra lá. Outra vez semeavam arroz, céu limpo e brisa fresca, sua mãe parou para descansar um pouco, enxugava a fronte quando viu. Mei-Lin estava com os braçinhos abertos, ao seu redor uma quase nuvem de borboletas coloridas; vez  por  outra ela batia palmas e as  borboletas aumentavam de número, pareciam surgir, como em mágica, de seus dedos. Mais tarde, quando lhe perguntassem, diria apenas: 
- Brincadeira. 
Seu avô materno, velhinho viúvo, sentava-se todo fim de tarde numa grande pedra perto da casa. Um dia Mei-Lin sentou-se ao seu lado, esticou o pescoçinho na direção do avô e lhe cochichou ao ouvido. Dois dias  depois morreu ele e antes, pediu que trouxessem Mei-Lin, abraçou-a e se foi  segurando sua mãozinha. Um dia acordou sonolenta e não brincou, sentou-se na grande pedra e ficou a desenhar, como o dedo no ar, um arco-íris no céu. No dia seguinte morreu, e durante todo aquele dia, todos puderam ver, um arco-íris colorido cruzou o céu, e sobre a grande pedra borboletas brincavam, numa quase nuvem colorida na alegria.
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“Ao mestre de minhas letras, João Guimarães Rosa e, em memória de meu irmão, Gilles Moynard”
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George Manuel Pereira da Silva pretende para breve editar seu primeiro livro solo, “Lentagonia”. O autor tem no Clube Amigos das Letras sua primeira oportunidade de mostrar suas obras. Influenciado para as Letras por João Guimarães Rosa, é dele que guarda um pensamento: “Viver é muito perigoso”.
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Apoio Cultural: Rodas da Liberdade - Michel - Paulo Emílio - Recife-PE
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