Gabriela Andrade da Silva
Campinas - SP O garoto chorava ao olhar
para o ancião. Desde pequeno por ele fora educado. Amava-o e respeitava-o
muito. E neste dia descobrira o que lhe parecia óbvio há tanto
tempo: que ele não era perfeito.
O ancião olhava-o sério e com ternura. Talvez com um pouco de tristeza. O relacionamento entre eles com certeza não seria mais o mesmo, apesar de poder ser bem parecido. Seria mais difícil, mas mais maduro. A etapa pela qual o garoto passava era uma etapa bonita, mas também triste. De qualquer maneira, uma etapa importante: aprender a discordar. O garoto sentou-se na relva e deitou a cabeça sobre os joelhos encolhidos. Era estranho. Apesar das pequenas brigas, das pequenas raivas, nunca vira no ancião algo que considerasse como um real defeito. Durante muito tempo pensara que ele era um herói. Um semideus. E que essa perfeição vinha com a idade. Com o tempo. E que, sendo assim, conforme fosse crescendo, também chegaria a ser como ele. Mas naquele dia, o que vira, era diferente de tudo o que já havia visto. Era um grande e real defeito. Algo capaz de gerar... decepção. Decepção. Era o que sentia. Levantou a cabeça. Olhou com certa raiva para o ancião. As lágrimas ainda escorriam. – Assim é crescer – disse o ancião. Chorou mais. – Crescer é se decepcionar? – perguntou, soluçando. – Mais ou menos. Para crescer é preciso descobrir que nada nem ninguém, pelo menos em nosso mundo, é perfeito, e que, por isso, nós também não seremos. E isso muitas vezes nos decepciona. O garoto ficou em pé. Enxugou as lágrimas. Encarou o ancião. – Você ainda tem muita estrada pela frente. – disse o homem. – Mas já deu um grande passo. Olhou para o céu. Para o chão. Tomou coragem e enfrentou novamente o olhar do ancião. Este estendeu-lhe a mão, que foi aceita receosamente, mas depois seguramente. – Seja bem-vindo! – Disse o ancião. E puseram-se novamente a andar. Gabriela Andrade da Silva desde cedo escreve em prosa
e versos. Estudou literatura e já classificou uma obra sua em concursos,
publicada em antologia. Aprecia ler Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade,
Cecília Meirelles, Mário Quintana, Augusto dos Anjos, Olavo
Bilac e João Cabral de Mello Neto. Crê na literatura como meio
de aprimoramento cultural de pessoas e nações.
Apoio Cultural: José Rocha Andrade da Silva *** |