Melindre ou rabugice
                    Ly Sabas               
                              Osasco - SP                 
              
Estava absorta olhando o teclado sem o ver, à procura de uma rima para “carente”, quando o interfone insistentemente, acabou com  minha concentração. Era uma senhora querendo falar com o morador do apartamento 42 e, como ele não atendia, escolheu o meu que fica no mesmo andar. Educadamente, pediu-me que o avisasse que estava esperando no portão. Pobre senhora, como poderia ela saber que o dito cujo mal fala comigo?! Embora relutante, lá fui eu tocar a campainha. Preparei minha melhor cara de paisagem para a abertura da porta, que como sempre, foi só parcialmente. Comecei a falar e antes que terminasse, para meu espanto, levei com a porta na cara! Com o estrondo ainda ecoando, voltei para frente da tela pensando: “acho que esse cara é doente”. Pronto, achei a rima! Mas não consegui escrever uma linha sequer, tentando entender por que me incomodava tanto o fato de ter um vizinho cheio de melindres.
Já reparou como é terrível isso? Vizinhos são tanto ou mais importantes do que parentes. Afinal eles estão a um passo de nossa porta e parentes, freqüentemente, moram a léguas de distância. Pensando nisso, sempre usei a política de cumprimentar até os bichinhos de estimação. Mas, com esse em particular, nada dá certo. 
Agora, já tentou agradar alguém que está sempre melindrado? Por mais que com um maravilhoso sorriso digamos: “Bom dia!”, a  resposta virá entre dentes e de cabeça baixa. Isso quando vier.  E já notou como ficamos transparentes? Nem com todas as dietas do mundo conseguiríamos um resultado tão excelente! Não adianta ser educado, segurar portas, dar recados e fazer pequeninos favores. Será sempre como andar em campo minado. Se você o magoar, não importa se foi tudo um mal entendido, explicação nenhuma o satisfará e ele jamais irá “ficar de bem”.
E é por isso que incomoda. Por que queremos estar de bem com a vida e que todos que nos rodeiam estejam também. E desejamos que o lugar onde sedimentamos nossos sonhos seja harmonioso e cheio de vida. Que seja iluminado por sorrisos e esperanças compartilhadas. Queremos nos sentir seguros, acobertados pela confiança mútua. E, principalmente, que o respeito tenha o significado real da palavra. 
Sei que continuarei tentando uma convivência pacífica com meu solitário e mal humorado vizinho. Porque a minha casa não termina nos cômodos que me cabem; ela abrange não só o edifício, mas a rua, a cidade, o mundo. Onde, tenho certeza, desejamos todos, habite a paz.
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“Dedicado a um ser especial, mescla de anjo e amigo e a todos que amo, na Terra e no Céu”
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Ly Sabas escreve movida pela paixão, sem atentar para estilos ou didática. Incentivada por amigos, passou a publicar seus textos na internet quando foi dando a conhecer seus textos ao público. Confessa ter sido leitora compulsiva e conserva a característica de não ter preferência por nenhum autor. Apenas tira de cada um deles o mesmo que costuma dar em seus textos: a paixão.
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Apoio cultural: Dr. Arnaldo Teixeira de São Sabas  e  Eduardo Gusson
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