João Domett
Pederneiras-SP Detesto elevadores, seja
porque são fechados, claustrofóbicos ou por serem extremamente
formais, como um ônibus que segue em linha reta pra cima ou para baixo,
onde as vezes o condutor é você. Já parou pra pensar nisso,
e se você apertar o botão errado, onde vai parar?
De qualquer jeito a sensação que se tem é ruim. Nunca
peguei um elevador com televisão, cafezinho, suco, no máximo
tinha um grande espelho e a gente ainda ficava de costas pra ele. Tem o ascensorista,
que é a pessoa responsável pela condução do
elevador, não consigo imaginar alguém que goste dessa profissão,
um ás do elevador ou coisa do gênero, acho que pode ser chamado
de condutorista também.
-Sobe! -Sinto muito senhor está
lotado, pode dar um passinho pra trás, isso, agora a gente já
pode soltar sua gravata.
O clima no elevador é sério e depressivo, tem uns que tem aquela gradezinha, esses parecem a própria solitária, me imagino subindo e descendo numa prisão temporária, talvez seja esse um modo de pagar parte dos pecados, aos poucos, e em situações inusitadas, com aquele friozinho no estômago e a pressão nos ouvidos. Li num artigo que basta
uma pessoa bocejar para que todos o imitem, diz o texto que, no que concerne
aos bocejos, somos todos macacos de imitação. Esse fato é
conseqüência de uma característica do cérebro - quando
observamos uma ação ou a imaginamos ele ativa os mesmos circuito
para nós realizarmos aquela mesma ação. É divertido
tentar isso num elevador, principalmente às sete da manhã de
uma segunda feira. Um dia subia para o trabalho, havia chegado mais cedo que
de costume e o ascensorista me perguntou se eu não poderia ganhar
a vida como escritor. Respondi que talvez sim, mas que escrever é
uma tarefa difícil, um trabalho solitário, e disse olhando
sério para ele: você consegue imaginar passar o dia todo, todos
os dias, num lugar pequeno e sem graça cumprindo somente o seu dever?
Depois desse dia ele não falou mais comigo.
O pior no elevador é o serviço, não distribuem jornais ou revistas e é muito monótono, principalmente se ele pára em todos os andares. Há também o problema da superlotação e você viaja em pé, mas nem tudo é ruim, se anime, é grátis! Um dia peguei um que tinha
duas portas, a que eu entrei e uma logo atrás de mim, foi constrangedor
descer pela porta errada. Como artista plástico fiz uma obra intitulada
“O elevador” para que as pessoas compreendessem que forçosamente e
literalmente a vida tem altos e baixos, a obra era composta de duas
portas automáticas com botões nas laterais, como em qualquer
prédio, indicando sobe e desce, em cima um marcador com o número
de andares parado no quinto, e uma frase onde estava escrito: “Esta
é a única alternativa que temos para não subir
escadas.” Confesso que foi engraçado ver a multidão se acumulando
na porta da obra reclamando da demora. Talvez por isso eu tenha procurado
um prédio sem elevadores para morar. As vezes me arrependo, principalmente
quando volto das compras. Não deixo de pensar o quanto é
ridícula toda essa comodidade, mas seria útil,
se eu morasse no décimo quinto andar por exemplo.
João Domett, artista plástico, tem poesias
e crônicas premiadas - e editadas - em concursos em sua cidade. Gosta
de ler José de Alencar, Vinícius de Moraes, Thiago de Mello,
Clarice Lispector, Mario Lago, João Ubaldo, Jorge Amado, Érico
Veríssimo, Mário Quintana, Carlos Drummond e Luís Fernando
Veríssimo.
Apoio Cultural: Associação Atlética Banco do Brasil - Pederneiras-SP Gestão: Adalberto Chaves ***
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